ARTE SECULAR CULTIVADA POR MULHERES NO RECÔNCAVO BAIANO

Dona Cadu: o leve sorriso da cerâmica de Coqueiros 
Para preparar uma boa Moqueca Baiana, é necessário muito mais que bons peixes, 
Leite de Coco Fresco e um bom Azeite de Cheiro o bom humor e alegria de quem prepara são elementos fundamentais.
O recôncavo da Bahia, detêm o conhecimento e mantem a tradição.Os locais onde são produzidos a cerâmica é na Rua das Palmeiras e na Fazenda do Rosário, situada na entrada de Coqueiros, além desses lugares tem a Rua do Racha que é produzido fornos para torrar farinha e fazer pizza, mas lá a produção é feita por homens. 
Existem aproximadamente vinte e oito mulheres trabalhando na cerâmica. Ricardina Pereira da Silva, conhecida como dona Cadu, Josefa de Jesus França, dona Zefa, Lélia Coelho Frota, Leninha e Maria Lúcia Evangelista da Silva, apelidada por Aía, estão entre as mulheres mais velhas no oficio. 

Disposta e sempre com muita simpatia, dá vida, diariamente, a panelas, frigideiras e potes, como num balé feito com os dedos. O distrito de Coqueiros, em Maragojipe, guarda em sua história a tradição da cerâmica passada há décadas de geração em geração. Dona Cadu, para a maioria dos moradores, é o símbolo maior dessa cultura. 
“Era menina ainda quando vi uma vizinha de meu pai fazendo cerâmica. Eu olhava e achava bonito. 
Ela me perguntou se eu queria aprender e eu aceitei na hora. 
Assim, do barro, há anos, tenho tirado o sustento da minha família e consegui educar meus filhos”, revelou a ceramista. 
Com seu carisma e sorriso sereno, Dona Cadu teve, ao longo da vida, importantes conquistas. “Certa vez, representei a Bahia com meu material numa exposição em Curitiba. Fui pela cerâmica e pelo samba de roda. Senti muito orgulho do que eu faço e fiquei feliz por ver que gostaram do meu trabalho”, contou Ricardina. 
Dona Cadu leva o que sabe adiante e dá aulas de cerâmica para os moradores da comunidade. 

Os homens são em quantidade bem reduzida, apenas três lidam com louça e cerca de cinco na produção de fornos. 
As mulheres trabalham sem horário determinado, cerca de dez horas por dia durante toda semana, sentadas no chão, expostas à poeira, característica do trabalho com barro, em suas próprias casas e quase sempre auxiliadas por familiares. A venda é mensal e bimestral e no período do verão ela aumenta, devido ao processo de queima das peças. 
A comercialização acontece por meio da associação, através da participação em eventos, como as exposições e diretamente. De acordo com as louceiras, a quantidade de peças produzidas diariamente varia muito, peças menores, como a frigideira, fica em torno de 20 por dia, já outras como a panela, uma das mais difíceis de produzir, chega a ser produzida 15 peças por pessoa. 
O barro utilizado na confecção das peças é comprado individualmente ou em conjunto e o valor da caçamba custa cerca de R$ 300,00. Essa quantidade pode durar entre sete meses e um ano, dependendo da demanda da venda. Antigamente, o barro era extraído de fazendas próximas a comunidade, mas os proprietários não aceitaram mais a retirada da terra. 
O deslizar das mãos sobre o barro úmido faz parte da rotina de Ricardina da Silva, a Dona Cadu, desde quando ela tinha 10 anos de idade. Hoje, com 94, ela parece nem sentir o avanço do tempo. 
Os alunos dela são só elogios para a professora. Rodrigo Santana é um deles. “Ela tem um conhecimento muito grande, é dedicada e tem orgulho do que faz. Aprendi muito com ela. A cultura é a nossa maior riqueza e me sinto orgulhoso, porque estou preparado para multiplicar o que me foi ensinado”, disse o jovem. 
"O homem nutre-se também de imaginário e de significados, partilhando representações coletivas. Se é possível avaliar o valor nutritivo do alimento (um combustível a ser liberado como energia e sustentar o corpo ) o ato alimentar implica também em um valor simbólico, o que complexifica a questão, pois requer um outro tipo de abordagem" Claude Fischler (2001, p. 20). 

Hoje, em Coqueiros, mais de 50 homens e mulheres sobrevivem da cerâmica e de outros ensinamentos de Dona Cadu que não têm preço. A comunidade de Coqueiros, distrito de Maragogipe, no Recôncavo Baiano, é muito reconhecida pela produção artesanal de cerâmica, que resguardam uma técnica peculiar, de origem indígena. 
A produção de cerâmica remonta ao período colonial, passada de geração a geração pelas mãos dos antigos artesãos e preservada, até hoje. 
Dentre as várias peças utilitárias produzidas, destacam-se as panelas, os tachos, as fruteiras, os fogareiros, as travessas e as frigideiras. 
Processo para produzir peças de cerâmica 
O processo de produção da cerâmica são quatro. Primeiro precisa-se do barro, que após comprado, quebra em pedaços menores e coloca na pista para os veículos amassar. 
Depois de amassado, ele é recolhido da pista, peneirado e molhado com água para fazer a massa de confecção das peças. 
O segundo é a confecção das peças, já sabendo que tipo de peças vai ser feita, a ceramista pega um pouco da massa e coloca sobre um pedaço de madeira, aperta com as mãos até formar o objeto, depois coloca num canto para secar. No outro dia, ela raspa o fundo do objeto, alisa com um pano úmido e coloca para secar novamente. Terceiro passo, depois da peça seca, é hora de fazer o burnimento (o processo que dá acabamento ao produto, com a pintura das peças), é feito pelas artesãs mais novas, por se tratar de um processo que exige maior esforço físico. Após a modelagem, as peças são secas ao sol. 
Último passo, que é o da queima dos produtos, é feito coletivamente, acontece quando as artesãs reúnem todos os produtos que precisam ser queimados e o fazem de uma vez só. Antes de ir para o fogo, as peças precisam ser passadas no sol, para não sofrer choque término. As loucas ficam empilhadas, cercadas de bumbum para pegar fogo facilmente.

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