Corrente de Esperança


Esses dias difíceis trazem uma lembrança muito tocante. A história dos meninos da Tailândia, em 2018, que mexeu e ainda altera meu peito todas as vezes que penso nela!

Aconteceram gestos tão humanos naqueles dias, desde quando os meninos não retornaram do passeio até o final do resgate e, acredito, devem ecoar até hoje...

O modo como as famílias e demais pessoas envolvidas lidaram com a angústia e dificuldades concretas foram tão compassivos e, ao mesmo tempo, tão poderosos que eu sempre sentia vontade de escrever a respeito, mas - emocionada - faltavam palavras...

O que sei é que tenho sentido tudo aquilo a cada postagem ofensiva que vejo, a cada indireta negativa, cada xingamento, toda expressão de ódio, independentemente do lado em que ela esteja, sinto um aperto no peito e - talvez - tentando me salvar, a lembrança daqueles sentimentos bons inundam meu ser...

Muito maior e pior que a ameaça e sofrimento que o vírus tem nos causado, são dias pensando, sentindo e tentando engolir esse horror que, reconheço, não tenho capacidade para processar. Acho que nós, seres humanos, não temos essa capacidade. Podemos até nós arrebentar e matar por causa dele, mas processar como quem quebra em partes e digere, não há como!! Porque é muita coisa ruim para lidar de uma só vez e em um só momento!

Vejam, a natureza se refez em pouquíssimos dias das nossas cargas imundas e irresponsáveis, mas não nos livramos dos sentimentos tóxicos que temos vivido e propagado... como plantas, céus, oceanos se limparem e não sermos capazes de parar, filtrar e livrar nossa alma de todo esse mal?

Por isso aqueles dias imensos parecem mãos aqui dentro, derramando coisas que não sei dizer... Não lembro de ter ouvido uma queixa dos pais a respeito do treinador que levou os meninos para o passeio. Não ouvi nenhum profissional de outra área julgando o trabalho daqueles que se dispuseram a ajudar. Não lembro de ter visto lista alguma de opiniões diversas e confusas nem a necessidade de mostrar o erro dos outros para ser considerado o melhor. Nao ví videos do lado a ou do lado b. Não tenho uma lembrança de arruaça e olha que eu trabalhei todos aqueles dias acompanhando e desejando com a alma que tudo terminasse bem! Eu prestei atenção.

Jornalistas foram tocados por tudo aquilo e até mesmo os sensacionalistas perderam a direção, enfraquecidos pela força do verdadeiro propósito que havia naquelas pessoas...

Elas foram simples, humildes, pediram e contaram com diferentes ajudas. Elas não se precipitaram nem no pensamento até receberem alguma notícia dos meninos e durante todo o resgate. Elas rezaram. Elas meditaram. Os pais ficaram à espera dos filhos, para dar a eles a alegria de serem os primeiros a abraçá-los quando saíssem da caverna...

Outras pessoas se organizaram para alimentar essas famílias e cuidaram também de todos profissionais e voluntários que participaram do longo e difícil resgate. Quem tinha alguma técnica ou equipamento mais adequado para isso, viajou para lá também... Eles tiveram a perda de um mergulhador que os ajudou. Corrijo. Eles viveram a entrega de alguem que realmente se doou para salvar os meninos!

Teve quem perdeu familiares enquanto estava lá servindo... tristeza, gratidão e profunda comoção, mas ira e ódio não estavam presentes...

Como sempre, penso nas crianças e jovens. E imagino como contam, hoje, a experiência vivida. Talvez digam que seus pais foram maravilhosos, que tiveram grande parte no sucesso do resgate, pois pediram o tempo todo para que alguém maior - capaz de atuar naquilo que ninguém poderia - os salvasse. Se tiverem o costume de ler as notícias nas redes sociais, devem sentir a gratidão pelo modo como foram cuidados... uns torcendo pelos outros, pois todos sabiam que precisavam do pouco que o outro pudesse oferecer...

A ajuda do especialista em mergulho foi tão reconhecida quanto a água servida lá fora para quem estava esperando... E esperar foi uma enorme prova de amor...

Os meninos devem morrer, desculpe, viver de orgulho dos seus professores e do treinador que os ensinou a poupar o ar, a beber água limpa nas paredes das cavernas. A economizar a energia. A esperar com paz...

Fico imaginando como pensam sobre a comunidade a que pertencem... uma família ampliada... e sobre quem veio de longe ajudar? Que ideia terá sobre o mundo quem foi socorrido por alguém que - lá de longe - ouviu e veio em seu socorro... Choro outra vez por uma emoção rara e bonita, que me aperfeiçoa...

Então penso nos nossos jovens, nas nossas crianças. Nas do mundo todo que têm nos assistido... Sentindo um medo não admitido e um tanto perdidos, não vemos direito o que temos feito...

Não respeitamos o diferente virtual nem frente à frente. Não sabemos tratar nossas angústias e dores sem transbordá-las antes de pensar. Não nos apoiamos, nos estilhaçamos. Não enxergamos os nossos próprios sentimentos e ferimentos e não nos cuidamos. Nem nos deixamos cuidar...

Estamos todos sofrendo e a ponto de brigarmos uns com os outros porque esquecemos que somos um pedaço insubstituível do todo, gritamos a dor que sentimos, projetamos no vizinho, ninguém nos acalma a alma... Não damos tempo pra ela encontrar abrigo dentro e fora de nós...

Eu não aprecio o modo de falar do presidente, mas vejo o mesmo modo refletido em cada hostilidade até dos que o odeiam. E com o tempo que perdemos discutindo verbalmente, a essência que nos une escorre entre os dedos... com ela escorre o tempo...

O modo leviano que temos visto em relação ao vírus é fruto da nossa desagregação.
Não poderia ser diferente. Simples assim, embora muito triste!

Bem, escrevo porque penso que vale a pena recordar e tentar aprender as inúmeras lições daqueles dias... poderíamos começar a fazer de outro jeito, a começar pela gente.

Descobrir posicionamentos que nos façam crescer juntos, evoluir como seres humanos! Como pessoas totalmente comprometidas com o Bem!
De modo que, dando nosso melhor, possamos sentir que não estamos sozinhos nessa sociedade abalada, fragilizada, beirando o caos extremo, absoluto!

Vai faltar muito mais emprego, vai faltar dinheiro, vai faltar tanta coisa. Já faltava tanto antes do covid, mas agora toda nossa falta está nítida... estamos por um triz...

Por isso não pode faltar acolhimento. Não pode faltar respeito. Amor não pode faltar!

Já não basta tudo que estamos perdendo e quem estamos perdendo? Não é mais do que suficiente não poder encontrar e abraçar nossos queridos? Já não está pra lá dos limites fugir de um vírus que a gente não pode ver e que tem enfraquecido o nosso mundo? E lidar com a ambição de poder e as armas mais sujas que já vimos... nossa lista de tarefas já não está grande o bastante? Será mesmo que seremos manipulados por essa era sem escrever nela a história que queremos?

Dias dificílimos nos esperam e são consequências de toda a nossa omissão e da maldade de quem não se importa com ninguém.

Não é preciso acreditar nas profecias para saber que só mesmo um grande apagão para mostrar a eles quem pode de verdade. E que passou da hora de acendermos as luzes dos nossos corações. Não temos mais tempo adiante... O tempo é agora!

E a única força que ainda temos e, verdadeiramente, nunca usamos, todos e ao mesmo tempo!! Nós somos seres humanos... dotados de capacidades para resolver problemas e aliviar a nossa própria vida e melhorar o mundo uns para os outros!

Sem o amor que podemos sentir e expressar, como seres humanos, a vida só poderia ser um horror! Mas, se quisermos, ainda dá pra ser diferente!

Quando tudo passar, se eu passar - rezo para que passem também - quero ter sido alguém que alimentou o amor que me foi dado. Que não deixou de acreditar em nenhum momento que, independente de qualquer coisa - ainda que eu doa, ainda que eu sofra - na existência de um criador de todas as coisas lindas e bonitas, de todas as pessoas, do universo e que Ele é bom! E nos ama! E nunca quis nosso sofrimento! Nunca nos abandonou! Mas nos pediu para amar como Ele amou! Estamos fazendo o contrário...

Que Ele nos ajude a lembrar para que fomos sonhados; da força presente em cada célula do nosso corpo; do Amor capaz de mudar o rumo da história... Que Ele esteja na porta da caverna!

Que todas as pessoas que amo e todas as pessoas que são amadas por alguém estejam nos esperando com abraços... que todas as pessoas que nunca foram amadas possam experimentar e descobrir a dignidade do amor incondicional com o qual fomos feitos e chamados à existência!!

Que o AMOR nos capacite a nos salvar da nossa caverna!!

Abaixo o link da história dos meninos! 🙏🏼

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-44827229


Por: Claudia Chaves 

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