‘A morte vista de perto’, reflexão de Sebastião Salgado
As fotos de Sebastião Salgado são famosas no mundo inteiro. Suas imagens em preto e branco de trabalhadores e refugiados já ganharam inúmeros prêmios e são reconhecidas pela profunda dignidade que despertam no interlocutor.
Mas apesar das imagens de Sebastião Salgado já terem dado a volta ao mundo, sua história pessoal, as raízes políticas, éticas e existenciais de seu engajamento fotográfico permaneciam ignoradas. Em Da minha terra à Terra, é seu talento como narrador que surpreende. A autenticidade de um homem que sabe como poucos combinar militância, profissionalismo, talento e generosidade. Abaixo uma das narrativas do livro:
‘A morte vista de perto’
“Como já relatei, vi tanto sofrimento, ódio e violência ao longo das reportagens para Êxodos que saí muito abalado. Mas não me arrependo de tê-las feito. “Diante de uma atrocidade, o que constitui uma boa foto?”, às vezes me perguntam. Minha resposta cabe em poucas palavras: a fotografia é minha linguagem. O fotógrafo está ali para ficar quieto, quaisquer que sejam as situações, ele está ali para ver e fotografar. É através da fotografia que trabalho, que me expresso. É através dela que vivo.
Amo Ruanda. Decidi fotografar seus trabalhadores e suas plantações, bem como a beleza de seus parques e as atrocidades que neles foram perpetradas, justamente porque a amo. E naquele período de horror fotografei-a com todo o meu coração. Pensava que todos deviam conhecer aquilo. Ninguém tem o direito de se proteger das tragédias de seu tempo, porque somos todos responsáveis, de certo modo, pelo que acontece na sociedade em que escolhemos viver.
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